Por Nelson Niero | De São Paulo
O Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês), órgão americano independente, encerrou sua primeira rodada de fiscalização das grandes empresas de auditoria no Brasil com um relatório sobre a KPMG, no qual aponta "deficiências de auditoria" em dois trabalhos feito durante 2007.
Deloitte, PwC, Ernst & Young e BDO, todas firmas internacionais de contabilidade, já passaram pela avaliação do PCAOB, que também apontou o que considerou "falhas" de procedimento no processo de checagem de balanços dos clientes.
No caso da KPMG, os fiscais afirmam que a firma não fez testes suficientes para identificar a existência das chamadas "partes relacionadas", empresas ou pessoas do mesmo grupo. As transações entre partes relacionadas costumam ser acompanhadas de perto pelos investidores, já que carregam um alto risco de ser realizadas em condições desfavoráveis para empresa e, consequentemente, seus acionistas.
Em outra ressalva, o PCAOB afirma que a KPMG não realizou, num trabalho em que não era o auditor principal, procedimentos suficientes para avaliar um instrumento financeiro sem cotação no mercado.
O PCAOB não revela os nomes das empresas envolvidas.
Assim como suas concorrentes, a KPMG argumenta na carta que acompanha o relatório divulgado no site do PCAOB que os trabalhos da auditoria e do fiscalizador envolvem julgamento profissional. "Em circunstâncias específicas, podemos ter visões diferentes sobre questões como avaliação do risco ou sobre a adequação da natureza e o alcance dos procedimentos de auditoria", diz a resposta.
"É uma questão interpretativa, mais de documentação que de procedimento", disse ao Valor Gilberto Munhoz, sócio de auditoria da KPMG que assina a carta enviada ao PCAOB em setembro do ano passado.
Segundo ele, a KPMG refez os trabalhos seguindo as orientações do órgão americano e chegou às mesmas conclusões. "Os números não mudaram, não foi o caso de refazer os balanços."
De qualquer forma, "as sugestões de aprimoramento" foram seguidas, disse Munhoz.
A inspeção a KPMG brasileira durou quatro semanas. Além de acompanhar o trabalho nos clientes - foram quatro os escolhidos -, os fiscais avaliam também os controles internos da auditoria. Essa parte da inspeção não é aberta ao público, a não ser que, numa revisão posterior, o PCAOB verifique que a firma não corrigiu os erros identificados.
Desde 2005, o órgão publicou cerca de 90 relatórios de auditorias reprovadas nesse quesito.
O PCAOB, uma entidade privada sem fins lucrativos, foi criado pela Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, em reação aos escândalos empresariais do início daquela década, "para fiscalizar as auditorias das companhias abertas a fim de proteger os interesses dos investidores e promover o interesse público na preparação de pareceres de auditoria informativos, precisos e independentes". A auditoria das corretoras também está sob sua supervisão.
Até ontem, 2.396 firmas de contabilidade americanas e não americanas estavam registradas no órgão, 19 delas brasileiras.
A inspeção fora dos Estados Unidos tem sido um problema para o órgão. No começo de 2010, a intenção era visitar 28 países, mas em 16 deles, incluindo China, Alemanha e França, o órgão foi barrado por questões legais ou de "soberania". O PCAOB informa que continua em negociação com o governo desses países.
Fonte: Valor Econômico
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