A Deloitte corre o risco de perder clientes de bancos no Brasil, caso seja confirmada responsabilidade da empresa no processo que levou ao rombo de R$ 2,5 bilhões do Panamericano, dizem especialistas. O problema do banco de Silvio Santos não serviu apenas para derrubar suas ações em Bolsa, mas também para expor um sistema de avaliação que tem brechas, tanto em seu próprio modo de operar quanto na fiscalização dos reguladores.
“Imagem e credibilidade são a alma do negócio. Se a Deloitte falhou, entregou a alma”, afirma Alex Agostini, economista da Austin Rating. “Se os clientes se sentirem ameaçados por uma má avaliação da auditoria, podem responder trocando o serviço”, afirma Vinícius Carrasco, professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
A Deloitte é a terceira maior no atendimento a instituições financeiras no País. Tem 19,4% do mercado, o correspondente a 30 bancos, segundo levantamento da Austin. De seus clientes, o maior é o Santander. Há também Safra, BNP Paribas, Daycoval e Cacique. A primeira colocada é a PricewaterhouseCoopers, com 26,5% do total e auditados como Bradesco, Itaú Unibanco e Goldman Sachs. Em seguida vem a KPMG, com 22,6%, e seus clientes Banco do Brasil, Citibank e Credit Suisse.
“O risco de a Deloitte perder clientes vai depender do desfecho do negócio”, afirma Luis Fernando Camargo, professor do Insper que já trabalhou tanto na PwC quanto na própria Deloitte. “Se for confirmado que houve negligência ou conivência, os clientes podem, sim, optar por descredenciar a prestadora do serviço.”
Questionada pelo iG sobre a suposta perda de clientes após o rombo do banco Silvio Santos, a Deloitte enviou a seguinte declaração, via assessoria de imprensa: “ A Deloitte não está perdendo nenhum cliente. Ao contrário, estamos recebendo apoio de nossos clientes que conhecem nossa ética e integridade. É um absurdo atribuir qualquer vínculo da Deloitte com fraudes. Estas afirmações são feitas com o claro objetivo de desviar a atenção dos verdadeiros responsáveis pela situação do Banco.”
A responsabilidade da auditoria
O rombo do Panamericano fez com que profissionais financeiros voltassem a discutir responsabilidade e falhas. Camargo, professor do Insper e ex-auditor, lembra que auditoria é um serviço como outro qualquer, e que passa por trâmites como pesquisas de preços. “Leva quem oferece o menor valor, e os auditores também têm pouco tempo para avaliar os clientes”, afirma. “São profissionais que correm muito.”
Ele diz ainda que, pelo sistema de trabalho de todas as auditorias, o problema do Panamericano poderia ter ocorrido com qualquer empresa e cliente. “A auditoria analisa os balanços por amostragem. Então, pode ser que a Deloitte não tenha mesmo visto as operações com problema do banco de Silvio Santos”, diz.
Camargo também ressalta que a função do auditor não é a de policial, mas de analista. “Sua responsabilidade é ver se os procedimentos contábeis utilizados estão dentro das normas.”
A responsabilidade dos reguladores
Outra questão que ficou no ar no processo do Panamericano foi a da responsabilidade dos reguladores. Em geral, só há fiscalização após a descoberta do problema. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) controla companhias abertas, o Banco Central (BC) monitora as operações das instituições financeiras, mas quem fiscaliza o trabalho das auditorias antes do parecer do balanço? A resposta é: ninguém.
A assessoria de imprensa do BC diz que verifica os trabalhos dos auditores quando estão prontos, mas não acompanha o processo de checagem de dados. Isso seria fazer auditoria da auditoria, afirma o Banco Central. Já a CVM diz que, no caso do Panamericano, analisa e investiga assuntos relacionados a informação do mercado (exceto demonstrações financeiras e auditoria), negociações com valores mobiliários da instituição e fundos de investimento.
Outro órgão que acompanha de perto o caso da Deloitte é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Mas o trabalho também é reativo, segundo Sergio Prado de Mello, vice-presidente de fiscalização, ética e disciplina. “Vamos colher dados e pedir à empresa que se manifeste. Caso haja responsabilidade, será aberto um auto de infração, que pode levar a advertências, multas, suspensão ou até cassação do registro profissional”, diz.
Fonte: Mercado Financeiro - Economia - iG
“Imagem e credibilidade são a alma do negócio. Se a Deloitte falhou, entregou a alma”, afirma Alex Agostini, economista da Austin Rating. “Se os clientes se sentirem ameaçados por uma má avaliação da auditoria, podem responder trocando o serviço”, afirma Vinícius Carrasco, professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
A Deloitte é a terceira maior no atendimento a instituições financeiras no País. Tem 19,4% do mercado, o correspondente a 30 bancos, segundo levantamento da Austin. De seus clientes, o maior é o Santander. Há também Safra, BNP Paribas, Daycoval e Cacique. A primeira colocada é a PricewaterhouseCoopers, com 26,5% do total e auditados como Bradesco, Itaú Unibanco e Goldman Sachs. Em seguida vem a KPMG, com 22,6%, e seus clientes Banco do Brasil, Citibank e Credit Suisse.
“O risco de a Deloitte perder clientes vai depender do desfecho do negócio”, afirma Luis Fernando Camargo, professor do Insper que já trabalhou tanto na PwC quanto na própria Deloitte. “Se for confirmado que houve negligência ou conivência, os clientes podem, sim, optar por descredenciar a prestadora do serviço.”
Questionada pelo iG sobre a suposta perda de clientes após o rombo do banco Silvio Santos, a Deloitte enviou a seguinte declaração, via assessoria de imprensa: “ A Deloitte não está perdendo nenhum cliente. Ao contrário, estamos recebendo apoio de nossos clientes que conhecem nossa ética e integridade. É um absurdo atribuir qualquer vínculo da Deloitte com fraudes. Estas afirmações são feitas com o claro objetivo de desviar a atenção dos verdadeiros responsáveis pela situação do Banco.”
A responsabilidade da auditoria
O rombo do Panamericano fez com que profissionais financeiros voltassem a discutir responsabilidade e falhas. Camargo, professor do Insper e ex-auditor, lembra que auditoria é um serviço como outro qualquer, e que passa por trâmites como pesquisas de preços. “Leva quem oferece o menor valor, e os auditores também têm pouco tempo para avaliar os clientes”, afirma. “São profissionais que correm muito.”
Ele diz ainda que, pelo sistema de trabalho de todas as auditorias, o problema do Panamericano poderia ter ocorrido com qualquer empresa e cliente. “A auditoria analisa os balanços por amostragem. Então, pode ser que a Deloitte não tenha mesmo visto as operações com problema do banco de Silvio Santos”, diz.
Camargo também ressalta que a função do auditor não é a de policial, mas de analista. “Sua responsabilidade é ver se os procedimentos contábeis utilizados estão dentro das normas.”
A responsabilidade dos reguladores
Outra questão que ficou no ar no processo do Panamericano foi a da responsabilidade dos reguladores. Em geral, só há fiscalização após a descoberta do problema. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) controla companhias abertas, o Banco Central (BC) monitora as operações das instituições financeiras, mas quem fiscaliza o trabalho das auditorias antes do parecer do balanço? A resposta é: ninguém.
A assessoria de imprensa do BC diz que verifica os trabalhos dos auditores quando estão prontos, mas não acompanha o processo de checagem de dados. Isso seria fazer auditoria da auditoria, afirma o Banco Central. Já a CVM diz que, no caso do Panamericano, analisa e investiga assuntos relacionados a informação do mercado (exceto demonstrações financeiras e auditoria), negociações com valores mobiliários da instituição e fundos de investimento.
Outro órgão que acompanha de perto o caso da Deloitte é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Mas o trabalho também é reativo, segundo Sergio Prado de Mello, vice-presidente de fiscalização, ética e disciplina. “Vamos colher dados e pedir à empresa que se manifeste. Caso haja responsabilidade, será aberto um auto de infração, que pode levar a advertências, multas, suspensão ou até cassação do registro profissional”, diz.
Fonte: Mercado Financeiro - Economia - iG
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